Faz este mês 10 anos que a Academia Sporting foi
inaugurada, em Alcochete, como infra-estrutura ao nível das melhores
academias de futebol da Europa, adequada para um Clube reconhecido como um dos melhores
formadores de jogadores da Europa.
Dada a efeméride, e estando a poucos dias do início de mais
um Campeonato da Europa, é uma excelente altura para analisarmos o impacto que
esta obra teve i) no futebol de formação do Sporting; ii) no futebol profissional
do Sporting; iii) no retorno financeiro para o Sporting; e iv) na Selecção
Nacional.
1. Impacto no futebol
de formação e profissional do Sporting
A nível de futebol de
formação, podemos concluir que os resultados têm sido muito bons. Em 30 campeonatos possíveis (iniciados, juvenis, e juniores), vencemos
14, sendo que em 80% das classificações, conseguimos ficar em 2º lugar, ou
acima. Destaque para os resultados obtidos nos juniores (escalão imediatamente
abaixo da equipa principal) onde vencemos
6 dos últimos 8 campeonatos.
A Academia foi inaugurada num período em que a equipa
principal, após um jejum de 18 anos, vinha da conquista do seu segundo
campeonato nacional no espaço de três anos. Com os frutos que se esperavam
vir a colher da Academia, e a sua natural passagem para a principal equipa,
previa-se uma longa época de sucessos.
No entanto, infelizmente, tal não veio a suceder. A equipa principal não voltou a ganhar o
campeonato, tendo conseguido apenas, como melhor resultado, o 2º lugar (em
quatro ocasiões).
2. Retorno financeiro
da venda de jogadores
Analisando as vendas efectuadas, de jogadores cujo processo de
formação tenha passado pela Academia, com excepção da venda de Nani (25,5M€), as restantes têm andado longe dos maiores valores
verificados na nossa liga.
Para além de Nani, apenas conseguimos mais duas vendas na ordem dos ~10M€, de resto, todas as restantes
transacções situaram-se abaixo dos 5M€.
3. Impacto na
Selecção Nacional
Apesar desta falta de sucesso do Sporting (desportivo e
financeiro) verificado pelos produtos das suas escolas, a verdade é que estes
jogadores têm servido como base da
Selecção Nacional, assim como dos principais clubes da Europa (e às vezes
até dos nossos principais rivais).
Se considerarmos a convocatória da Selecção para o EURO
2012, dos 24 jogadores convocados
(incluindo Carlos Martins e Hugo Viana), 11 jogadores foram formados no
Sporting (ainda que alguns anteriores à inauguração da Academia). Quase todos
passaram por vários escalões de formação, e uma grande parte passou vários anos
na equipa principal.
A formação do Sporting é neste momento a base da Selecção.
Para a lista dos 24 melhores jogadores portugueses da actualidade, nenhum outro clube tem mais que 3 jogadores
oriundos da sua formação. Os 3 jogadores formados na equipa que acabou a
liga portuguesa com mais pontos, até chegaram todos a esse clube já com idade
júnior.
Mas recuando alguns
escalões abaixo, a tendência mantém-se: basta ler o post do MRL “O SCP no Europeu de sub19” para ver que 7 dos jogadores do 11 base da Selecção de
Juniores são do Sporting!
ONDE ESTAMOS A
FALHAR? QUAL O FUTURO?
Parece-me evidente que o
problema não está ao nível da formação (os resultados nas camadas jovens
existem, e os jogadores são bem sucedidos noutros ambientes). Estamos a falhar a jusante, na integração
na equipa principal. Não consigo identificar a origem do problema, mas
identifico algumas causas que poderão responder em parte a esta situação:
·
Estes jovens jogadores têm sido integrados cedo
de mais na equipa principal;
·
Existe falta de equilíbrio entre jovens, e
jogadores experientes (de qualidade);
·
Falta mística e cultura ganhadora na equipa
principal;
·
Pressão dos adeptos que exigem demais a
jogadores demasiados jovens;
·
Incapacidade da equipa de gestão (que tem sido a
mesma nos últimos 10 anos) em rentabilizar estes activos.
Na minha opinião, temos
neste momento um plantel relativamente equilibrado. Faltam-nos, em posições
chave, 2 ou 3 jogadores de qualidade indiscutível. Dadas as
limitações financeiras conhecidas, não concordo que se façam grandes revoluções
no plantel (i.e. comprar muitos jogadores, cada um por pouco “poucos milhões”).
Se é para fazer algum investimento, devíamos investir em poucos, mas
(realmente) bons.
Aliado a isto, a
criação da Equipa B deverá servir para preparar melhor a integração dos jovens
no plantel principal. Tenho muita esperança neste projecto, mas como tudo,
só resultará com uma estratégia bem definida. Espero que quem decida, esteja
alinhado. Aguardaremos por mais detalhes sobre o que está previsto.
Ao menos que estas estratégias nos recoloquem na luta pelos
títulos. Não estou tão certo quanto à capacidade de rentabilização dos activos,
pois, se em 10 anos não fomos capazes de o fazer, dificilmente, de um momento
para o outro, as mesmas pessoas irão aprender a negociar. Mas ganhando, quem
sabe se até nas vendas nos tornaremos grandes.
2 comentários:
Amigo Kevs,
excelente post. Toca no essencial.
Pessoalmente, estou pessimista porque quem está à frente do futebol já deu provas que não consegue ou não quer aproveitar a excelência que a Formação do clube possui.
Está confirmada a participação na próxima edição do Next Generation.
Lá vão estar os tubarões de olhos postos na Academia.
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