domingo, 3 de junho de 2012

10 anos de Academia: o impacto no Sporting e em Portugal


Faz este mês 10 anos que a Academia Sporting foi inaugurada, em Alcochete, como infra-estrutura ao nível das melhores academias de futebol da Europa, adequada para um Clube reconhecido como um dos melhores formadores de jogadores da Europa.

Dada a efeméride, e estando a poucos dias do início de mais um Campeonato da Europa, é uma excelente altura para analisarmos o impacto que esta obra teve i) no futebol de formação do Sporting; ii) no futebol profissional do Sporting; iii) no retorno financeiro para o Sporting; e iv) na Selecção Nacional.


1. Impacto no futebol de formação e profissional do Sporting


A nível de futebol de formação, podemos concluir que os resultados têm sido muito bons. Em 30 campeonatos possíveis (iniciados, juvenis, e juniores), vencemos 14, sendo que em 80% das classificações, conseguimos ficar em 2º lugar, ou acima. Destaque para os resultados obtidos nos juniores (escalão imediatamente abaixo da equipa principal) onde vencemos 6 dos últimos 8 campeonatos.

A Academia foi inaugurada num período em que a equipa principal, após um jejum de 18 anos, vinha da conquista do seu segundo campeonato nacional no espaço de três anos. Com os frutos que se esperavam vir a colher da Academia, e a sua natural passagem para a principal equipa, previa-se uma longa época de sucessos.
No entanto, infelizmente, tal não veio a suceder. A equipa principal não voltou a ganhar o campeonato, tendo conseguido apenas, como melhor resultado, o 2º lugar (em quatro ocasiões).


2. Retorno financeiro da venda de jogadores


Analisando as vendas efectuadas, de jogadores cujo processo de formação tenha passado pela Academia, com excepção da venda de Nani (25,5M€), as restantes têm andado longe dos maiores valores verificados na nossa liga.
Para além de Nani, apenas conseguimos mais duas vendas na ordem dos ~10M€, de resto, todas as restantes transacções situaram-se abaixo dos 5M€.


3. Impacto na Selecção Nacional


Apesar desta falta de sucesso do Sporting (desportivo e financeiro) verificado pelos produtos das suas escolas, a verdade é que estes jogadores têm servido como base da Selecção Nacional, assim como dos principais clubes da Europa (e às vezes até dos nossos principais rivais).

Se considerarmos a convocatória da Selecção para o EURO 2012, dos 24 jogadores convocados (incluindo Carlos Martins e Hugo Viana), 11 jogadores foram formados no Sporting (ainda que alguns anteriores à inauguração da Academia). Quase todos passaram por vários escalões de formação, e uma grande parte passou vários anos na equipa principal.

A formação do Sporting é neste momento a base da Selecção. Para a lista dos 24 melhores jogadores portugueses da actualidade, nenhum outro clube tem mais que 3 jogadores oriundos da sua formação. Os 3 jogadores formados na equipa que acabou a liga portuguesa com mais pontos, até chegaram todos a esse clube já com idade júnior.

Mas recuando alguns escalões abaixo, a tendência mantém-se: basta ler o post do MRL “O SCP no Europeu de sub19” para ver que 7 dos jogadores do 11 base da Selecção de Juniores são do Sporting!


ONDE ESTAMOS A FALHAR? QUAL O FUTURO?

Parece-me evidente que o problema não está ao nível da formação (os resultados nas camadas jovens existem, e os jogadores são bem sucedidos noutros ambientes). Estamos a falhar a jusante, na integração na equipa principal. Não consigo identificar a origem do problema, mas identifico algumas causas que poderão responder em parte a esta situação:

·         Estes jovens jogadores têm sido integrados cedo de mais na equipa principal;
·         Existe falta de equilíbrio entre jovens, e jogadores experientes (de qualidade);
·         Falta mística e cultura ganhadora na equipa principal;
·         Pressão dos adeptos que exigem demais a jogadores demasiados jovens;
·         Incapacidade da equipa de gestão (que tem sido a mesma nos últimos 10 anos) em rentabilizar estes activos.


Na minha opinião, temos neste momento um plantel relativamente equilibrado. Faltam-nos, em posições chave, 2 ou 3 jogadores de qualidade indiscutível. Dadas as limitações financeiras conhecidas, não concordo que se façam grandes revoluções no plantel (i.e. comprar muitos jogadores, cada um por pouco “poucos milhões”). Se é para fazer algum investimento, devíamos investir em poucos, mas (realmente) bons.

Aliado a isto, a criação da Equipa B deverá servir para preparar melhor a integração dos jovens no plantel principal. Tenho muita esperança neste projecto, mas como tudo, só resultará com uma estratégia bem definida. Espero que quem decida, esteja alinhado. Aguardaremos por mais detalhes sobre o que está previsto.

Ao menos que estas estratégias nos recoloquem na luta pelos títulos. Não estou tão certo quanto à capacidade de rentabilização dos activos, pois, se em 10 anos não fomos capazes de o fazer, dificilmente, de um momento para o outro, as mesmas pessoas irão aprender a negociar. Mas ganhando, quem sabe se até nas vendas nos tornaremos grandes.

2 comentários:

MRL disse...

Amigo Kevs,

excelente post. Toca no essencial.

Pessoalmente, estou pessimista porque quem está à frente do futebol já deu provas que não consegue ou não quer aproveitar a excelência que a Formação do clube possui.

kevs disse...

Está confirmada a participação na próxima edição do Next Generation.

Lá vão estar os tubarões de olhos postos na Academia.