Meio escondido num lounge do aeroporto de Munique, continuo sem saber muito bem o que escrever sobre o jogo de ontem. Eu fui um dos 2 mil sportinguistas presentes no Allianz Arena. Bem... talvez não fossem 2 mil porque alguns terão desistido de vir à Alemanha. Para eles os 0-5 tinham sido suficientes para tomarem a decisão de ficar em casa. Para outros, incluindo eu, não o foi, e durante horas, andei pelo centro de Munique com a camisola do Sporting orgulhosamente vestida.
Algumas horas e cervejas depois, apanhei o metro para o estádio (impressionante obra arquitectónica) onde se juntaram umas dezenas de portugueses que rapidamente se fizeram ouvir ruidosamente.
Esperamos mais um pouco e comecou o jogo. A partir daí todos sabemos o que aconteceu.
No final os insultos do costume, que nem sequer devem ter chegado lá abaixo, porque muitos de nós estávamos sem forca (teclado alemão não tem c com cedilha) para nada.
A meu ver, o que motivou esta vergonha foi o que já aqui escrevi: o Sporting actual não pode nunca jogar de igual para igual com o Bayern, com o Barcelona ou com qualquer outra equipa deste nível. E isto para mim é tão evidente, como achar suícida o Rio Ave, Trofense ou P.Ferreira virem a Alvalade jogar ao ataque.
Utilizando uma metáfora, o Sporting de hoje é como um velho burgues, que em tempos foi rico e socialmente importante, e que já não o sendo, continua a achar que o é. E assim vai passeando pela Europa como se o ainda fosse, sendo olhado pelos adversários com pena.
Numa situacao destas, todos nós procuramos os culpados querendo desde logo que alguém pague esta cara factura. Caem presidentes, demitem-se treinadores, insultam-se jogadores, mas a verdadeira causa continuará por resolver. Os culpados somos nós, os sportinguistas.
Uns porque deixaram de ser sócios ou de frequentar o estádio. Passámos a ser um clube de 25 mil pessoas no estádio e de uns 30 ou 40 mil sócios pagantes. Esses mesmos, já não incutem nos seus filhos a vontade de ser sportinguista.
Outros porque continuando a viver o clube, elegeram um presidente que implementou uma estratégia que há anos apresenta resultados perigosamente ameacadores. Sejam os desportivos, sejam os financeiros. Cada vez há menos sócios, menos património, menos orcamento, menos modalidades, menos tradicão, menos Sporting. E atencão! Não estou assim a dizer que o presidente é o culpado. Ele sempre deixou claro qual era a sua estratégia. Os sócios votaram e elegeram a sua aplicacão.
Por isso digo: A culpa é nossa! E por isso, mais do que nunca, está na hora de decidirmos o que queremos. Vem ai um congresso e um acto eleitoral. Serão momentos decisivos para o futuro do nosso clube. Queremos continuar a ser este velho burgues, pobre mas com a mania que é importante?
Lá estarei em Santarém para lutar por um Sporting diferente do que vi ontem e do que tenho visto nos últimos anos.
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8 comentários:
Caríssimo, um abraço, boa viagem e assino por baixo tudo o que escreveste.
Tenho pena que a experiencia tenha acabado desse modo, mas noutras circunstancias e noutra altura havemos de combinar mais uma incursão deste tipo, idealmente na champions, mas com outro Sporting
Começam a chover os mails...Houve um que achei interessante:
"No meu mandato fiz obra" - citação de uma entrevista de Soares Franco - De facto 12-1 é Obra!
MRL:
No meu blogue, e por falta de palavras, dediquei-vos o escrito de um Sportinguista, ( o apelido Damas diz tudo) por definir aquilo que sente um adepto do Sporting.
Aceito as minhas culpas, concordando com o post, mas não aceito que isso funcione como um eficaz diluente que apaga as responsabilidades de todos os intervenientes. O que aconteceu foi mau de mais e deve ser compreendido para que não volte a acontecer. Os orçamentos, as desigualdades entre as realidades competitivas não explicam a diferença de 12-1 e muito menos a atitude.
Também não concordo com a visão do velho burguês. Somos um clube com passado rico é verdade, mas o futuro também o pode ser, se, no presente, soubermos dar os passos certos, mobilizando os Sportinguistas em todo o lado onde se encontram.
Infelizmente também não partilho da ideia de que o Congresso é importante para o clube, no curto-médio prazo. Será mais um carrossel mediático e uma feira de vaidades, de pouca utilidade. Que legitimidade terão as conclusões e um Congresso com 5 centenas de sportinguistas face aos resultados eleitorais com milhares de votos, caso estes sejam de sentidos opostos?
Neste momento o Congresso serve mais de tampão a possíveis candidaturas e vem num momento pouco propicio a reflexões. Eleições já, Congresso depois.
Carissimo,
Apenas para lhe deixar uma palavra de solidariedade, votos de boa viagem e ainda que penso que a culpa poderá ser de todos, menos sua.
Um forte e grande abraço leonino.
Sinceramente nem sei o que escrever de tão atordoado que estou.
É uma nódoa na nossa história que nunca será apagada.
JG,
"Este Clube foi aquele que há 3 anos despediu um treinador e um Presidente depois de terem perdido uma FINAL da taça UEFA e não terem sido campeões por 6 minutos devido a uma falha de um Guarda Redes!"
Lembro-me de ver as manifestações depois da final da Taça UEFA, a pedirem a cabeça de toda a gente e pensar:"deve ser do hábito de chegarmos aqui".
MRL:
Esqueci-me do mais importante: o pior pesadelo é aquele caso que se torna realidade e o qual nem em sonhos nós achávamos que era possível.
Esta definição de almanaque descorrida à pressa é bem capaz de exemplificar o que sentimos ontem.
SL
Caro Leão de Alvalade:
Antes de mais obrigado pelo comentário. Gostaria apenas de responder a dois pontos onde se calhar até estamos de acordo:
i) a metáfora utilizada por mim descreve a forma como eu vejo o clube actualmente e não aquilo que espero que venha a ser. Concordo a 100% que o futuro poderá ser diferente, dependendo daquilo que fizermos;
ii) relativamente ao congresso discordo do que diz. Será um carrosel mediático se os presentes assim o quiserem. E o seu propósito pelo que entendi será o de definir as linhas orientadoras para as próximas eleições. Não caber na cabeça de ninguém que se apresenta uma lista com ideias divergentes daquelas aprovadas em congresso. Por isso, não só dou grande importancia a este evento, mas também acho que vem em muito boa altura.
Caro JVL :
Concordo com a ideia que parece querer transmitir. Pedir cabeças é sempre a saída mais fácil. O mais difícil é entender e corrigir as causas destas situações. Pessoalmente, prefiro sempre discutir estratégias e opções técnicas a discutir pessoa A ou B.
Caríssimos,
Estas ocasiões devem servir para as organizações fazerem uma análise profunda dos seus erros e desvios estratégicos. Mas para isso precisam de massa crítica.
Infelizmente, o que eu vejo no Sporting é uma massa crítica cada vez menor. Uns afastam-se, outros fazem de conta que não percebem o que se está a passar para não encararem a dura realidade e, se calhar, daqui a 3 semanas, já ninguém fala do que se passou. E continuaremos na nossa apagada e vil tristeza!
Sei que estou a traçar um cenário negro, mas oxalá me engane!
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